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28 de março de 2016 Entrevista com Aluísio Guerreiro

 

O ex-atacante de Santos, Fluminense, Cruzeiro e Botafogo, Aluísio Chaves Ribeiro Moraes, o popular Aluísio Guerreiro, nos concedeu entrevista, na noite da última sexta-feira(18), em Santos-SP. A última ocupação profissional de Aluísio foi a de treinador do América-RN, com a qual levou a equipe da cidade de Natal ao título do primeiro turno do Campeonato Potiguar. Porém, mesmo com o bom aproveitamento, não seguiu no comando do clube e, atualmente está à procura de uma nova equipe para dirigir.

Durante a entrevista, o experiente ex-atleta contou a origem de seu apelido, passagens de sua carreira como atleta profissional, além de projetar a nova carreira de treinador. Ainda criticou duramente a forma com a qual se gere o futebol brasileiro, torcendo por uma melhora rápida na gestão dos clubes e das federações.

Pai de dois atletas que atualmente atuam no Futebol Europeu, Aluísio não pôde deixar de comentar sobre as carreiras dos seus filhos, das quais também participa e se orgulha muito. Comentou também sobre outras experiências profissionais que teve depois do fim da carreira de jogador.

Aluísio em seu último trabalho, como treinador do América-RN

Segue a entrevista completa:

Como aconteceu a sua passagem da categoria de base para o profissional?

No Clube de Regatas do Flamengo eu fiz a base, uma base muito boa. Vários jogadores que depois se tornaram craques – entre eles Adílio, Andrade e o Zico, que já estava um pouquinho na frente – eram da base do Flamengo, que revelava muitos bons jogadores. Eu joguei até os 17 anos no Flamengo e depois eu fui para o Fluminense e na época da ‘Máquina'(como ficou conhecida a equipe tricolor na metade dos anos 70) eu joguei no profissional, eu era o jogador mais jovem daquele timão da época da ‘Máquina’.

E em que momento você passou a ser chamado de Aluísio Guerreiro?

Isso foi na época que eu vim para o Santos, eu fui trocado por 5 jogadores, mais 5 milhões na época, foi uma das maiores transações do futebol brasileiro e aí o Pepe(ex-jogador e treinador do Santos Futebol Clube), por causa do Toninho Guerreiro, me colocou esse apelido. Eu estava com uma média muito boa de gols e até hoje ele brinca comigo, eu acho que isso é legal.

Você ganhou maior destaque profissionalmente, jogando com a camisa do Santos. Comente um pouco sobre a sua passagem pelo Alvinegro Praiano.

Foi uma passagem muito rápida, muitos gols no começo, sendo o artilheiro da equipe com uma média de quase 1,5 gol por partida, Vice-campeão paulista, chegamos na final, prdemos pro São Paulo, roubado na época. A gente jogava até pelo empate e nos tiraram esse título. Mas minha trajetória foi inteira no Santos, apareci mais em um time grande, fiz a minha vida aqui em Santos e depois cheguei a jogar no Botafogo, no Cruzeiro e em alguns outros clubes do futebol brasileiro.

Outra passagem de destaque que você teve na sua carreira, foi pelo América-RN. Em 1977 você foi Campeão Potiguar, sendo o artilheiro da competição. Como essa temporada foi especial para você?

Foi muito especial porque de lá eu fui pro Ceará, fui Campeão Cearense e do Ceará eu fui pro Santos. Fiz gol em quase todos os times grandes quando eu jogava no América-RN, na primeira divisão. O América de Natal era da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Fiz gol contra o Corinthians, contra o Cruzeiro, Fluminense, vários clubes grandes e o destaque também era muito grande.

E neste ano você teve a oportunidade de treinar o América-RN. Foi uma passagem com 7 jogos oficiais, sendo 4 vitórias, 1 empate e 2 derrotas. Mas, apesar desse bom aproveitamento, você não seguiu no comando da equipe. Por que essa sua trajetória no América não continuou?

Na verdade foram 10 jogos, porque tiveram 3 amistosos. Mas eu vou falar uma coisa muito interessante: o futebol brasileiro está muito nivelado por baixo, porque o treinador no futebol brasileiro não consegue fazer o seu trabalho. Quando o treinador começa a ganhar e aparecer, o dirigente começa a fazer ingerência por causa de empresários. Infelizmente aconteceu isso comigo no América de Natal. E agora eles estão colhendo os frutos: começaram a perder e empatar. Mas eu fiz um bom trabalho, tenho certeza disso, porque eu ajudei a equipe a conquistar a Taça Cidade de Natal, que é o primeiro turno do Campeonato Potiguar e que levou a equipe à Copa do Brasil do ano que vem. Eu nunca vi isso, o teinador chegar à final contra o vice-líder, jogando pelo empate e ser demitido por um diretor, porque o presidente estava na Europa. Mas Deus está vendo tudo e graças a Ele eu dou sempre a volta por cima e vai aparecer um novo clube com um trabalho mais profissional em que eu possa desenvolver o meu trabalho.

Comente também a sua experiência como Diretor de Futebol da Portuguesa Santista, que também foi um clube em que você jogou profissionalmente.

Também foi uma passagem muito rápida. Eu fui convidado a ser Diretor de Futebol, mas o clube passava dificuldades financeiras e eu abri mão da minha posição de Diretor para que o empresário tocasse o futebol da Portuguesa, porque senão ela não ia nem disputar os campeonatos.

Como foi a sua passagem como Consultor Técnico do São Carlos?

Foi ótima, tanto que o São Carlos subiu de divisão, vou aproveitar e agradecer o Diretor do São Carlos pela porotunidade. Fizemos um trabalho muito bom lá e até hoje a sequência do São Carlos é muito boa.

Em qual das suas três experiências depois de “pendurar as chuteiras”(Diretor de Futebol na Portuguesa Santista, Consultor Técnico no São Carlos ou Treinador no América-RN), você se sentiu mais à vontade e pretende seguir na sua carreira?

Então, por incrível que pareça, o trabalho no América-RN foi muito interessante, porque nós começamos no dia 14 de Dezembro, fizemos uma pré temporada, fizemos um trabalho muito bom. Eu estava já projetando uma equipe pra renovação, para o América subir para a Série B do Campeonato Brasileiro, mas infelizmente as ideias não bateram, eles ficaram na ‘mesmice’ e por isso estão na Série C. Infelizmente não consegui dar sequência ao meu trabalho lá.

Então quais são seus planos para a sua carreira como treinador?

O meu projeto, quando eu fui para o América-RN, era assinar um contrato de 2 anos. Eu acho que um treinador tem que ter 6 meses ou 1 ano de trabalho para poder mostar, realmente, o trabalho dele. Mas são raríssimos os clubes em que um treinador consegue fazer o seu trabalho. Eu espero que apareça esse clube que tenha ideias e projetos para que eu possa me adequar ao clube. Eu tirei uma folga de 10 dias com a família e agora estou voltando ao mercado. Já tiveram vários contatos, mas nada que me atentasse a fechar. Apareceram algumas coisas que eu não achei interessantes. Eu não gosto de aventura e espero que apareça alguma coisa que seja boa para mim e para o clube.

Você pretende seguir a sua carreira aqui no Brasil ou no exterior?

Eu cheguei a fazer um estágio no Porto(de Portugal), assisti alguns jogos, participei em algumas situações, vi como eles trabalham e a gestão do Porto, para mim, é uma das melhores do futebol europeu.  Acredito que essa experiência foi muito boa. Agora eu espero que, no novo clube em que eu venha a exercer a minha função, eu possa colocar em prática todo esse meu aprendizado. A princípio eu pretendo fazer um curso de inglês, ir me atualizando e estou até pensando em fazer um estágio em um time grande, com um treinador de ponta(Muricy ou o próprio Cuca). Eu conversei com meus filhos e eles querem que eu vá para fora, mas eu ainda vou esperar mais um pouquinho e torcer para o país melhorar um pouquinho para que eu possa trabalhar com dignidade, porque aqui tem muito “rolo”, muito apadrinhameto, muito esquema e eu não tenho essa cabeça.

Seus dois filhos, Bruno Moraes e Júnior Moraes, também se tornaram jogadores de futebol e atualmente jogam no Varzim de Portugal e no Dynamo de Kiev, da Ucrânia, respectivamente. Que conselhos você dá a eles, tanto como pai, quanto como ex-jogador?

Sempre de muito profissionalismo, e é por isso que eles estão lá. Graças a Deus estão bem. Antes de ir para lá eu coloquei o Bruno no inglês, porque naquela época eu já tinha essa visão. Eles estão construindo uma carreira muito boa e eu fico muito feliz por eles.

Tanto o Bruno quanto o Júnior construíram suas carreiras na Europa. Isso foi uma orientação sua, ja que você cuida da carreira deles, ou a iniciativa partiu deles mesmos?

Além da capacidade que eles tinham, eu orientei eles a ir para a Europa, porque o Brasil, se continuar do jeito que está no futebol, as coisas não vão andar. As malandragens nas negociações são o que mais se vê no Brasil e isso, sinceramente, não faz parte da minha família e eu não quero isso para mim e nem para ninguém.

Ambos também tiveram a oportunidade que você teve, de vestir a camisa do Santos Futebol Clube, equipe com a qual você sempre foi muito identificado. Essas passagens dos seus filhos pelo Santos fortaleceram seu vínculo com o clube?

Em partes fortaleceram. A gente agradece ao Santos Futebol Clube, foi uma baita vitrine. Mas eu volto à gestão do futebol: eu nunca vi um garoto de 16 anos(Bruno Moraes), de seleção, campeão de tudo na categoria de base não ser aproveitado no próprio clube pelo treinador(Emerson Leão), por causa de empresários e eu era visto como o pai que incomodava. Infelizmente, no futebol isso ainda ocorre, porque no vôlei não tem isso, no basquete não tem isso, a gente vê pais e filhos trabalhando juntos e esse é um preconceito muito grande que existe no futebol do Brasil. São raros os clubes em que isso acontece. Eu espero que o futebol do Brasil seja, realmente, profissional e que as coisas melhorem, porque senão a gente sempre vai estar nos últimos lugares.

Além de cuidar da carreira dos seus dois filhos, você teve a oportunidade de cuidar da carreira do Robinho, quando o ‘Rei das Pedaladas’ estava no início de sua carreira, no Santos. Como foi essa experiência?

Ele já estava junto com os meus filhos, eles jogavam futebol de salão juntos e ele era um garoto muito carente, pai e mãe separados e a gente via ele com um futuro promissor. O Santos não queria ele, iam levar ele, na época, até para outro clube, mas eu bati forte na mesa, dizendo que tinham que ficar com o garoto e o treinador achava ele muito magrinho. Além deles eu formei outros jogadores. No Jabaquara eu fiz um timão que  foi campeão da Segunda Divisão, em 1993: Otacílio, Maçarico, Índio, grandes jogadores. Ajudei muitos jogadores, na minha passagem, graças a Deus, sempre procurando orientá-los, porque eu vejo os atletas muito carentes de orientação nesse aspecto.

Seu filho mais velho, o Bruno Moraes, foi campeão da Liga dos Campeões, em 2003, com a equipe do Porto e, nesta temporada 2015-16, o mais novo, Júnior Moraes, chegou às oitavas-de-final com o Dynamo de Kiev, da Ucrânia, caindo somente para o poderoso Manchester City. Qual é a emoção, para um pai que também foi jogador, de ver seus dois filhos na elite do futebol mundial?

Eu fico muito feliz por eles, porque é uma batalha muito árdua, com uma concorrência muito grande e se eles estão lá é porque merecem. Então eu fico, realmente, muito feliz por eles e orgulhoso.

A família reunida: Bruno Moraes, Aluísio Guerreiro e Júnior Moraes

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