Preso pela Polícia Civil na sexta-feira (8) por suspeita de fazer parte da quadrilha que participava de esquema de manipulação de resultados em divisões inferiores do futebol brasileiro, o jogador carioca Márcio Souza da Silva, 36, seria o elo entre a quadrilha asiática que comandava o esquema e os aliciadores no Brasil.
A Polícia considera Márcio o subchefe do grupo que age em território nacional, abaixo apenas de Anderson Rodrigues, que ainda não foi localizado, e que tratava mais diretamente da negociação de valores e de resultados.
Nascido em São João do Meriti, no Rio, ele teve passagem de oito anos por clubes da Indonésia e da Malásia, dois países nos quais estão concentrados os chefes do esquema, segundo apuração da Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) na operação denominada Game Over. Outros comandantes do grupo estariam na China.
A importância de Souza ao esquema estaria nos contatos que fez com os grupos asiáticos e em seu domínio do idioma local, o indonésio. Anderson não fala outros idiomas além do português.
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Márcio Souza tem coleções de chuteiras da Nike |
Desconhecido no esporte brasileiro, Souza é popular na Indonésia. Ao longo de três anos e 57 jogos pelo Persela Lamongan (2006-2008), ele se tornou ídolo após marcar 42 gols na fraquíssima liga local. No entanto, nos anos seguintes, em clubes como Semen Padang (segunda divisão), Sidoarjo, ISL e Bandung, seu desempenho discreto e problemas de comportamento lhe causariam problemas.
Em 2010, os organizadores da Liga da Indonésia proibiram todos os clubes de contratá-lo para a temporada seguinte devido a comportamento anti-profissional dentro e fora de campo, segundo declarações de Joko Driyono, diretor da Liga, à época. A declaração destaca uma suposta agressão a árbitro durante um jogo, amplamente noticiada pela imprensa e negada pelo atleta.
Em 2013, ele se transferiria ao Terengganu, da Malásia, onde teria seu contrato rescindido em 2014 por, segundo nota do clube, não corresponder às expectativas.
Nas redes sociais, Souza mantém retratos dos momentos vividos no continente asiático, marcados especialmente pela ostentação.
Ele exibe diversos relógios que fariam parte de sua “coleção”, como ele escreve. Boa parte deles são da marca Invicta, de origem suíça. Segundo Souza, nos comentários, eles lhe teriam custado “de R$ 2 mil a R$ 5 mil” cada um.
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Márcio Souza ostenta na internet relógios da marca Invicta, de origem suíça |
Seus álbuns também incluem fotos com numerosas chuteiras da Nike personalizadas com seu nome, “Márcio S.”, além de sacolas de lojas de roupas de grife, como Armani Exchange.
Casado com uma indonésia, ele já tinha passagens compradas e viagem marcada para o país quando foi preso pela Polícia Civil. Ele foi procurado em sua residência, na zona norte do Rio de Janeiro, mas estava na casa de uma namorada, segundo disseram seus familiares na ocasião. Na sequência, ele se apresentou à delegacia.
Na sexta-feira (8), diversos jornais da Indonésia, como o “Harian Haluan”, repercutiram a prisão de Souza.
Segundo o delegado Mário Sérgio Pinto, titular do caso, os levantamentos de bens feitos pelo Drade não apontam que a quadrilha em ação no Brasil tenha enriquecido com a manipulação de resultados.
“Consideramos duas possibilidades: que outras pessoas estejam recebendo os valores por eles ou que a maior parte do dinheiro tenha ficado com os chefes na Ásia”, disse Pinto na última quinta-feira.
Até o momento, a polícia prendeu nove pessoas que teriam envolvimento com o esquema, que funcionava da seguinte maneira: uma quadrilha asiática contatava aliciadores no Brasil, que então ofereciam dinheiro para dirigentes, técnicos e jogadores para que perdessem partidas por resultados específicos. Sabendo de antemão dos resultados, os membros da quadrilha apostavam em sites asiáticos com a certeza de que multiplicariam seus ganhos.
A Folha tentou contato com advogados de Souza, mas não teve sucesso.
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Márcio com sacolas de lojas de roupas de grife, como Armani Exchange |
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